sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Émilie du Châtelet e Voltaire. Ciência, Amor e Arte

                                      O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
                                      O que há é pouca gente para dar por isso.
                                       óóóó - óóóóóóóóó - óóóóóóóóóóóóóóó
                                      (O vento lá fora.)
                                                                     Álvaro de Campos, 1928

Considere-se um corpo material de massa m, deslocando-se com velocidade v. Diz-se que o corpo possui energia cinética. Como deve quantificar-se essa energia? Através do produto da massa do corpo pela sua velocidade (mv) conforme Newton admitiu como hipótese, ou do produto da massa pelo quadrado da velocidade (mv2) conforme Leibniz conjecturou?
Esta foi uma das grandes questões de Émilie du Châtelet (1706-1749) na primeira metade do século XVIII. Filha de aristocratas, aos 16 anos levaram-na para Versalhes, mas nunca se interessou pela vida dos salões da nobre sociedade francesa, nem frequentou bailes de debutantes. Em vez disso, lia a geometria analítica de Descartes e os trabalhos de Newton e de Leibniz. Dedicou a sua vida à ciência, ao amor e à arte. Cedo descobriu um marido de conveniência, du Châtelet, militar rico que passava a maior parte do tempo em campanhas distantes e que, como costume da época, aceitava os encontros amorosos de Émilie durante a sua ausência. Neles, ela encontrou o amor da sua vida: Voltaire, pseudónimo de François Arouet (1694-1778), escritor e filósofo iluminista francês.
Voltaire viveu alguns anos em Inglaterra onde se familiarizou com a jovem mecânica de Isaac Newton (1642-1727) e a filosofia política de John Locke (1632-1704) que a ela foi beber inspiração.
Regressado a França, que melhor "alma-gémea" poderia ter encontrado, durante uma ópera, senão a de Émilie? Tinham interesses comuns: reforma política, literatura e arte e, sobretudo, o avanço da ciência. Em conjunto, transformaram o castelo de Cirey, propriedade de du Châtelet, num dos centros de investigação científica mais importantes da época. A biblioteca rivalizava com a da Academia de Ciências de Paris. Os laboratórios foram equipados com o que de mais recente existia. Salas de conferências e acomodações privadas para convidados, promoviam as visitas frequentes de destacados cientistas. Émilie tinha um laboratório pessoal, onde nas paredes da área de leitura pendiam quadros originais de Antoine Watteau (1684-1721), pintor francês do movimento rococó. Voltaire tinha, também, uma área privada com passagem discreta entre o seu quarto e o dela.
Émilie era a verdadeira investigadora. Voltaire o estímulo permanente, o filósofo e o escritor de humor requintado, com uma cultura científica considerável. Por exemplo, "Micromegas" é uma história deliciosa, porventura glosando as "Viagens de Gulliver", onde um habitante da estrela Sirius (Micromegas) vai até Saturno, se encontra com um cientista local e ambos acabam por visitar a Terra. Micromegas tinha sido proibido de regressar a Sirius nos oitocentos anos seguintes, devido aos seus escritos excêntricos em que "tratava-se saber se a forma substancial das pulgas de Sirius era da mesma natureza da dos caracóis".
As investigações decorrentes em Cirey eram variadas. Entre outras, estudaram a combustão de substâncias e presume-se que se as balanças tivessem maior precisão teriam antecipado "a lei da conservação da massa" antes do nascimento de Antoine Lavoisier (1743-1794). Mas um dos problemas cruciais era a questão da energia enunciada acima. Émilie e colegas retomaram as experiências do físico holandês Willem 's Gravesande (1688-1742): largar pesos iguais na vertical sobre um piso de terra mole. Se mv fosse verdadeiro, então, um peso com o dobro da velocidade dum outro peso penetraria duas vezes mais no solo; outro com o triplo da velocidade penetraria três vezes mais e assim sucessivamente. No entanto, não foi o que Gravesande verificou: o peso com o dobro da velocidade penetrava quatro vezes mais; com o triplo da velocidade nove vezes mais, etc. Uma vez que a energia (E) determina o trabalho de penetração, a conclusão é que E deve ser proporcionalmv2 de acordo com Leibniz, e não a mv, segundo Newton. Simples e claro para toda a gente! Gravesande tinha um resultado robusto, mas não a formação teórica suficiente e quanto a Gottfried Leibniz (1646-1716) a sua proposta era apenas conjectural pois faltara-lhe o conhecimento da experiência. O grupo de Cirey uniu a teoria de Leibniz e a experiência de Gravesande estabelecendo, definitivamente, a definição quantitativa de energia cinética, E = k mv2. O estilo de escrita de Émilie era muito claro e as suas publicações tiveram um enorme impacto. No século seguinte, Michael Faraday (1791-1862), por exemplo, a elas recorreu. Diga-se, contudo, que a experiência de Gravesande não esclarece o valor da constante de proporcionalidade k que, neste caso particular, é 1/2.
Eis que, um século e meio depois, Albert Einstein (1879-1955) lança, em 1905 com a teoria da relatividade, um dos seus bem conhecidos ícones: E = mc2, onde c a velocidade da luz. Lá está, note-se, o produto da massa pelo quadrado da velocidade. A expressão é formalmente análoga à de Émile, se k = 1 e = c, mas muito mais abrangente e com um significado físico impressionante. Por um lado, mostra-se que ela conduz à forma particular de Cirey quando as velocidades envolvidas sejam muito, muito, muito menores do que a velocidade da luz (= 300000 km/s) o que se verifica para corpos materiais na maioria das situações do dia a dia; por outro lado, a expressão de Einstein é válida tanto para partículas materiais como para "partículas" de energia, por exemplo, os fotões que são os constituintes da luz e cuja velocidade é sempre c. Mais ainda, a expressão traduz uma equivalência entre massa e energia, ou seja, massa pode converter-se em energia e vice-versa, fundamentando as fontes brutais de energia nuclear. Tudo isto pode ler-se no livro de divulgação de David Bodanis indicado abaixo e, claro, pesquisando na Internet.
Émilie du Châtelet faleceu aos 43 anos vítima de uma infecção generalizada pós-parto. Voltaire ficou destroçado, mas utilizou o seu talento para divulgar o legado da amada. Com o rolar do tempo, porém, a "lei da morte", cantada por Camões, estendeu-se a Émilie como o fez a inúmeras mulheres, cientistas ou não, ao longo dos séculos, diga-se que com bastante menor peso para os homens. É muito bom constatar-se os esforços consideráveis nas últimas décadas para a igual dignificação da Mulher e do Homem, através de conferências pelo mundo fora, publicação de livros, ações a nível da União Europeia, ONGs etc. Não apenas no que se refere a memórias, mas também impondo para os vivos a implementação universal dos seus direitos inalienáveis. Apesar da atenuação ou mesmo eliminação, em alguns sectores, as desigualdades permanecem gritantes.
David Bodanis no prefácio do seu livro, conta que foi inspirado a escrevê-lo por uma entrevista, lida numa revista de cinema, à actriz Cameron Diaz que confessou o desejo de saber realmente o significado da equação de Einstein. Mais um belo exemplo (como "o binómio de Newton" de Álvaro de Campos?...) de que a Arte pode estimular a Ciência e vice-versa!...

("La Gamme d'Amour", A. Watteau)


Referências
[1] David Bodanis, "E = mc2, A Biografia da Equação mais Famosa do Mundo", Gradiva, 2001.
[2] "European Women in Chemistry", editors: J. Apotheker, L.S. Sarkadi, Wiley-VCH, 2011.
[3] Voltaire & The Divine Émilie
[4] Antoine Watteau
[5] Voltaire, "Micromegas", Livros de OZ, edições iman, 2003.
[6] Raquel Gonçalves Maia, "O Legado de Prometeu. Uma viagem na História das Ciências", Escolar Editora, 2006.
[7] Raquel Gonçalves Maia, "O Legado de Nobel. Perfis na Ciência do Século XX", Escolar Editora, 2008.
[8] Raquel Gonçalves Maia, "Dorothy Crowfoot Hodgkin", Edições Colibri, 2010.
[9] Raquel Gonçalves Maia, "Marie Sklodowska Curie", Edições Colibri, 2011.
[10] "Women in Science", UNESCO Institute for Statistics.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Diálogo entre Heisenberg e Einstein no cerne da Epistemologia

Em Abril de 1926, Werner Heisenberg, um jovem de 25 anos, encontrava-se na Universidade de Berlim proferindo uma palestra sobre a "mecânica de matrizes", uma teoria quântica dos átomos que ele tinha iniciado no ano anterior. Na fila da frente da assembleia estavam quatro laureados Nobel: Max von Laue, Walter Nernst, Max Planck e Albert Einstein. Os nervos do jovem, ao enfrentar pela 1ª vez tais personalidades, foram ultrapassados pela brilhante exposição que realizou. No final, Einstein convidou-o a terem "a little talk" no seu apartamento. No passeio até casa, informou-se sobre a família, educação e as investigações anteriores de Heisenberg.  Após sentados comodamente em casa, Einstein começou o diálogo:

"Você assume a existência de electrões no interior do átomo e provavelmente está certo, mas recusa-se a considerar as respectivas órbitas, embora possamos observar o rasto dos electrões em câmaras de nevoeiro. Gostarei muito de ouvir mais acerca do raciocínio das suas estranhas assunções".
Era o tipo de questão que Heisenberg esperava, segundo confessou mais tarde, para "vencer" o mestre de 47 anos, e ripostou:
"Não podemos observar as órbitas que os electrões descrevem no interior dos átomos, mas a radiação que um átomo emite habilita-nos a deduzir as frequências e amplitudes electrónicas. Como uma boa teoria deve ser baseada em grandezas directamente observáveis, eu pensei que seria mais plausível restringir-me a elas e tratá-las como sendo representativas das órbitas dos electrões".
"Mas, por certo, você não acredita seriamente que somente grandezas observáveis devam entrar numa teoria física?", disse Einstein.
A questão calou fundo em Heisenberg e atacou:
"Mas não foi precisamente o que você fez na teoria da relatividade?"
Einstein sorriu e desfechou:
"Um bom truque não deve ser tentado duas vezes!... Possivelmente utilizei esse tipo de raciocínio, mas é insensato de qualquer maneira. É completamente errado tentar fundamentar uma teoria somente em grandezas observáveis. Na realidade é o oposto que sucede: é a teoria que determina o que podemos observar. É óbvio que você assume na sua teoria que todo o mecanismo da transmissão da luz do átomo vibrante até ao espectroscópio, ou até ao olho, funciona exactamente como sempre temos suposto, isto é, de acordo com a teoria de Maxwell. Se não fosse este o caso, possivelmente não poderia observar qualquer das grandezas a que chama observável. A sua afirmação de que está a introduzir somente grandezas observáveis é, por conseguinte, uma assunção acerca de uma propriedade da teoria que você está tentando formular".
Esta "assunção" referida por Einstein é certamente uma insinuação subtil de que Heisenberg não tinha considerado que muitas observações experimentais dependem de teorias e instrumentos consequentes e, portanto, a teoria determina muitas vezes (cada vez mais, diga-se) o que pode observar-se. Heisenberg admitiu mais tarde: "Eu fiquei siderado com a atitude de Einstein, embora tivesse reconhecido que os seus argumentos eram convincentes". Curiosamente, foi a recordação da ideia de Einstein, "é a teoria que determina o que podemos observar", que deu a Heisenberg, meses depois, o impulso final para estabelecer o célebre princípio da incerteza.
Refira-se que na ocasião desta conversa a noção de orbital, ou seja, densidade de probabilidade electrónica em vez de órbitas clássicas como as dos planetas em torno do sol, ainda não estava assente. Por outro lado, quando em 1905 Einstein apresentou a teoria da relatividade, ele estava influenciado pelas ideias do físico e filósofo Ernst Mach (1838-1916) para quem o objectivo da ciência não era discernir a natureza da realidade, mas descrever os dados experimentais da maneira mais simples possível; cada conceito científico devia ser compreendido em termos operacionais - uma especificação de como podia ser medido. Foi sob a influência desta filosofia que Einstein desafiou os conceitos de espaço e tempo absolutos. No entanto, acabou por abandonar muitas das ideias de Mach porque, como disse a Heisenberg, "elas negligenciam o facto do mundo existir realmente e que as nossas impressões sensoriais são baseadas em alguma coisa objectiva".

Este diálogo tipifica uma das questões da epistemologia da ciência, entendo-se esta como o estudo dos sistemas de conhecimento científico e dos modos de o adquirir. Uma vez que muitas observações experimentais nas quais a estrutura da ciência se fundamenta são carregadas-de-teoria ("theory laden") é natural perguntar o que justifica as teorias elaboradas. Se as teorias científicas são distinguidas da especulação filosófica e mitos primitivos por serem, em última instância, radicadas em observações experimentais, e se o que pode ser observado é determinado por sua vez, em certa medida, por teorias, não estaremos envolvidos num círculo vicioso?
Esta questão é o ponto de partida para algumas das críticas à ciência que clamam ser os cientistas tão-somente um grupo de auto-declarados especialistas cuja compreensão da Natureza tem pouco valor cognitivo.

Na ocasião do diálogo, Albert Einstein (1879-1955) tinha mais 20 anos do que Werner Heisenberg (1901-1976) e estava bem treinado em debates epistemológicos. A teoria da relatividade restrita tinha sido publicada em 1905 e da relatividade generalizada em 1916. O seus debates históricos com Niels Bohr (1885-1962), sobre os fundamentos da física quântica, tinham-se iniciado no começo da década de 1920. Tinha feito contribuições da maior importância para a teoria quântica (aliás, o prémio Nobel foi-lhe atribuído pela interpretação quântica do fenómeno fotoeléctrico e não pela teoria da relatividade) apesar de se dizer, erradamente, que ele não acreditava na mecânica quântica. O jovem Heisenberg, já um promissor cientista, consagrado em 1927 com o seu famoso princípio da incerteza, ainda não estava bem seguro acerca da interpretação da sua "mecânica de matrizes", tanto mais que se debatia com a "mecânica ondulatória" que o seu "rival" Erwin Schrödinger (1887-1961) tinha publicado no início de 1926. Afinal, duas formulações matemáticas sobre os átomos totalmente equivalentes, embora com interpretações diferentes. Em 1933, ambos receberam o prémio Nobel da Física (em conjunto com Paul Dirac) pelas contribuições que deram à física quântica.
Einstein, um indefectível realista até ao fim da vida, defendeu que a física é uma tentativa de capturar a realidade tal como ela é, independentemente de ser ou não observada, e que a mecânica quântica é uma teoria incompleta, todavia uma excelente teoria estatística. Em contraponto com o seu amigo Bohr que defendeu uma realidade empírica onde o observador tem um papel crucial, e que a mecânica quântica é uma teoria completa traduzindo lúcida e matematicamente o resíduo irracional irredutível impossível de ultrapassar no esforço para adquirir conhecimento.
Após mais de um século do dealbar da teoria quântica, o debate sobre a verdadeira natureza da realidade continua aceso e longe de ser concluído. Num livro recente, "O Grande Desígnio", Stephen Hawking e Leonard Mlodinow lançam mais achas para a fogueira. Advogam uma realidade-dependente-de-modelos suavizando, pelo menos aparentemente, as questões espistemológicas.
Tudo isto constituí matéria que merece ser meditada e discutida, em especial com os mais novos. Para além do prazer intelectual, conduzirá certamente a novas ideias e a mais progressos.


 Referências
[1] Manjit Kumar, "Quantum", Icon Books, 2009.
[2] Roger G. Newton, "Thinking About Physics", Princeton University Press, 2000.
[3] Stephen Hawking, Leonard Mlodinow, "O Grande Desígnio", Gradiva, 2011.
[4] Werner Heisenberg, "Physics and Philosophy", Penguin Books, 1990.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

As Viagens de Gulliver. Laputa

As Viagens de Gulliver, da autoria do irlandês Jonathan Swift, 1726, têm sido adaptadas ao longo dos anos em variados contos onde pigmeus, gigantes e cavalos surgem no imaginário da nossa infância. A 3ª viagem de Gulliver, talvez a menos adaptada, foi à ilha Laputa, relevante na história da ciência porque o nome da ilha e a descrição da visita é uma sátira violenta sobre a ciência, em particular à Royal Society de Londres, fundada em 1660 pelo Rei Carlos II que desejou ser o patrono de uma instituição que representasse definitivamente a ascensão da ciência moderna.

Embora na Idade Média a actividade cultural não tivesse hibernado, foi a partir do Renascimento que o conhecimento nos vários domínios culturais teve avanços irreversíveis, estruturantes e globalizantes, em particular na ciência. Leonardo da Vinci (1452-1519), Nicolau Copérnico (1473-1543), Andreas Vesalius (1514-1564), Pedro Nunes (1502-1572), Thyco Brahe (1546-1601), Francis Bacon (1561-1626), Joahannes Kepler (1571-1630), William Harvey (1578-1657), René Descartes (1596-1650), Galileu Galilei (1564-1642), Robert Hooke (1627-1691) e Isaac Newton (1642-1727), ente muitos outros, contribuíram indelevelmente para o desenvolvimento da astronomia, navegação, matemática, física, biologia e medicina, culminando no Iluminismo (onde a emergência das ciências sociais é característica marcante) e apontando à Revolução Industrial e aos progressos impressionante do século XX. Entrou-se no que vulgarmente se designa por Era Moderna.

Factos políticos e sociais desses tempos são, por exemplo, a independência dos Estados Unidos da América (1776) e a Revolução Francesa (1789) com o famoso slogan "liberdade, igualdade e fraternidade". E, também, as hediondas decapitações da escritora francesa Olympe Grouges (1793), após ter publicado a "Declaração dos Direitos da Mulher", defendido Luís XVI e criticado Robespierre, e, do químico francês Antoine Lavoisier (1794), pai da química moderna, acusado (pelo despeitado médico Paul Marat) de fraude na humidificação das folhas de tabaco. Tudo isto, apesar do "princípio da inviolabilidade do indivíduo" na "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão" aprovada em 1789 pela Assembleia Nacional Francesa. De recordar, também, a escravatura, a pena de morte e a inquisição.

O método científico, a matemática entendida como linguagem da Natureza, o aparente determinismo dos fenómenos físicos com as suas leis e objectividade, a construção dos mais variados instrumentos, a implementação da química quantitativa, etc., afirmaram a ciência e a tecnologia como vectores culturais e civilizacionais para o progresso e bem-estar das sociedades.

Francis Bacon é considerado, pelo menos na cultura ocidental, como o mentor do método científico, destacando o papel crucial da experiência, do conhecimento racional e da capacidade humana para controlar a Natureza. Apesar da sua metodologia ser essencialmente indutiva, ainda não sublinhando a importância da hipótese e do raciocínio lógico-dedutivo, é indubitável que estimulou as descobertas e promoveu as aplicações práticas dos novos conhecimentos. Tanto mais servindo-se da sua influência social e política como procurador geral e lorde chanceler do Rei Jaime I de Inglaterra. Ironicamente, faleceu vítima de pneumonia após, numa noite de frio intenso, ter recheado um galináceo com neve para tentar demonstrar a importância da temperatura baixa na conservação da carne.
Em Avanço da Aprendizagem (1602), Bacon previu como a metodologia científica podia fornecer respostas, por exemplo, no prolongamento da vida e no desenvolvimento da agricultura. Em Novum Organum (1620), elegeu a imprensa, a pólvora e a bússola como as invenções que tinham transformado a literatura (recorde-se que Bacon foi contemporâneo de William Shakespeare), a guerra e a navegação. Nova Atlântida (1626) é uma obra de ficção, em que descreve a "Saloman's House" numa ilha utópica: um colégio de investigadores dedicados às descobertas e aplicações para o bem da comunidade, colectando e trocando informação através do mundo. "Conhecimento é poder", afirmou Bacon e, numa aparente invocação do deísmo, que "os homens devem saber que... somente Deus e os anjos são espectadores", estando aos homens reservada a aplicação activa do conhecimento.

Era de esperar que num mundo de "religiões reveladas", sensível a milagres, as ideias de Bacon fossem consideradas por muitos sectores como uma afronta às convicções religiosas e filosóficas dum Deus omnipotente. As reacções surgiram em catadupa e, eis que Gulliver descobre Laputa: uma ilha suspensa no espaço e habitada por estudiosos desafiando o senso comum. Embora fundamentada na lógica matemática, a academia desenvolve projectos tais como casas construídas do tecto para o chão, cores de tintas misturadas por cegos, produção de raios solares a partir de pepinos, e a transformação de gelo em pólvora e de excrementos em comida. Uma ilha de loucos motivados, afinal, pela bendita ciência! Mais, esses loucos possuem uma baixa moral, daí Jonathan Swift ter baptizado a ilha com o nome Laputa (a tradução espanhola e portuguesa do inglês "the whore"). De facto, o governo da ilha voadora pode suspender a seu prazer o sol e a chuva aos territórios subjacentes bem como arrasar qualquer povoação rebelde. Em suma, nas mãos desses imorais, mas  poderosos académicos, Laputa sugere a enorme ameaça que o método científico pode colocar!
Laputa pretendeu ser também, segundo alguns historiadores, uma crítica aos custos, praticabilidade e objectivos das explorações científicas da Royal Society de Londres. Curiosamente, diz-se que o seu patrono em 1660, o Rei Carlos II, estava impressionado com as tentativas dos investigadores em medir longitudes no mar, mas achava as discussões sobre o peso do ar cómicas e ridiculamente triviais. Enfim, o que dizer quando a autoridade cultural se mostra elusiva?...


Gulliver descobre a ilha voadora Laputa (ilustração de J. J. Grandville)

Referências
[1] Stanley W. Angrist, Loren G. Hepler, "Order and Chaos", Pelican Books, 1973.
[2] Sean F. Johnston, "History of Science", Oneworld Publications, Oxford, 2009.
[3] Raquel Gonçalves Maia, "O Legado de Prometeu. Uma Viagem na História das Ciências", Escolar Editora, 2006.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Sebastião e Silva. "Espírito Libérrimo"

Numa homenagem a Bento de Jesus Caraça [1], Sebastião e Silva escreveu:

"A meu ver, são principalmente o sentido crítico e a autonomia mental as qualidades que um professor de matemática se deve esforçar por desenvolver nos seus alunos. O endeusar um cientista ou uma escola, é prática que se tem revelado pouco favorável, e por vezes funesta, ao desenvolvimento da Ciência. Quando hoje me acontece - o que não é raro - ver alguns jovens portugueses caídos em êxtase perante a obra desse admirável autor policéfalo que se chama Nicolas Bourbaki (a quem devo aliás grande parte da minha formação), apetece-me logo espicaçá-los, dizendo-lhes que estão em perigo mortal de fanatização. Eles olham-me com aquela incredulidade obstinada que a juventude exibe, por sistema, perante a velha geração (lá têm as suas razões, também). Lembro-lhes então que eu já conheço o respeitável autor há perto de 30 anos, quando ele estava ainda na primeira infância. Devo a António Monteiro o ter-me ensinado a descobrir os méritos reais da criança. Mas foi Bento Caraça quem me ajudou a prever os possíveis inconvenientes do estruturalismo de Bourbaki, bem como a maneira de os combater. O seu ponto de vista, neste caso, resume-se em poucas palavras: «A intuição, que se adquire e afina no contacto com os problemas reais, é cruel para quem a despreza: o seu castigo é a esterilidade». Eu sei que não basta a intuição, o contacto com a realidade: já se viu que a lógica é necessária, muito mais do que Poincaré podia imaginar! Mas, quando ao tentar fazer investigação, dou comigo às vezes a construir esquemas cada vez mais abstractos, sem finalidade, começo a ver o sorriso, entre irónico e afectuoso, de Bento Caraça, e julgo ouvir a sua voz dizer-me com lhaneza alentejana: «Amigo, você por esse caminho arrisca-se a ficar perdido em congeminações escolásticas: vai ser como um moinho, que mexe e remexe, sem nada dentro para moer».
Acordo então do meu devaneio, e prometo a mim mesmo ser mais razoável daí por diante".

José Sebastião e Silva (1914-1972), natural de Mértola, matemático, professor, investigador, pedagogo e pensador, produziu uma obra notável, reconhecida nacional e internacionalmente. A sua produção científica e pedagógica está bem referenciada e difundida em variados meios. No entanto, talvez que a sua face de humanista e de pensador não seja tão bem conhecida. Destacá-la, é o objectivo desta nota.
Por exemplo, "Humanista Interessado pelos Problemas da Linguagem" e "Espírito Libérrimo" são duas das secções da sua biografia [2], págs. 33-38, escrita em 1972 por António Andrade Guimarães, Professor da Universidade do Porto, e arquivada na Escola Secundária Sebastião e Silva, em Oeiras.
Os problemas da Universidade foram, naturalmente, uma das suas permanentes preocupações. Constam, por exemplo, no artigo publicado pelo jornal "A Capital" [3], em 1968. Como se comparam com os problemas actuais? Um excerto interessante do artigo:

"Outro ponto a salientar é o seguinte: a crise universitária em Portugal é um caso “sui generis”, que seria de todo erróneo equiparar ao de outros países da Europa. E vou já dizer porquê. A partir dos anos 30, a política progressiva do Instituto para a Alta Cultura permitiu a um número apreciável de jovens licenciados portugueses trabalharem, pela primeira vez, em meios universitários evoluídos, sob a orientação de professores que eram investigadores – alguns deles “prémios Nobel” famosos (Madame Curie, casal Juliot- Curie, J.Perrin, L. de Broglie). Foi um raiar de esperança no horizonte nacional! Infelizmente, ao regressar a Portugal, essa geração de pioneiros não encontrou um meio que estivesse preparado para os receber e, custa-me dizê-lo, a reacção mais viva que se lhes opôs, partiu da própria Universidade. Hoje, a situação é diferente: existe já nas próprias Universidades, um certo número de professores que são investigadores; porém a estrutura é a mesma e a incompreensão subsiste; mas esta vem agora, principalmente, do meio extra universitário".

Na página comemorativa do centenário do seu nascimento, encontram-se dados biográficos, lista de publicações e algumas obras digitalizadas [5]. Diga-se que o início da publicação dos Compêndios de Matemática e Guias, referentes à reforma do ensino da matemática na década de 1960, que nas turmas-piloto estavam na forma de folhas policopiadas, é devido ao esforço e entusiasmo do Professor António Brotas do IST, Secretário de Estado do Ensino Superior e Investigação Científica em 1975-76. E, também, as memórias e artigos originais de investigação científica, colectados pelos Professores J. Campos Ferreira (IST), J. Santos Guerreiro (FCUL) e J. Silva Oliveira (FCUL), e publicados pelo Instituto Nacional de Investigação Científica [6]. No Facebook também se encontra uma página comemorativa [7].

Em Outubro de 2000, após 28 anos do seu falecimento, foi outorgada e entregue aos filhos de Sebastião e Silva a Grã-Cruz da Ordem de Santiago da Espada, pelo Presidente da República Jorge Sampaio. 

No ano do centenário do seu nascimento, aqui fica uma relíquia da década de 1940:


A partir da esquerda: 1-Hugo Ribeiro, 2-, 3-Aniceto Monteiro, 4-Zaluar Nunes, 
5-Bento Caraça, 6-Maurice Fréchet, 7-Sebastião e Silva, 8-Rui Luiz Gomes, 9-, 10-
(Nota: esta foto foi-nos oferecida por José Sebastião e Silva; a legenda está conforme a manuscrita pelo próprio)

Agradecimento
A Carlos Sebastião e Silva pelos esclarecimentos que pronta e amigavelmente me prestou.

NOTA: a referência [8] foi incluída em Outubro de 2022

Referências
[1] J. Sebastião e Silva, "Bento Caraça e o Ensino da Matemática em Portugal" em "Homenagem a Bento de Jesus Caraça", Vértice, Vol. XXXVIII (nºs 412-413-414), Coimbra, 1978.
[2] A. Andrade Guimarães, "Vida e Obra do Professor José Sebastião e Silva", 1972; arquivo da Escola Secundária Sebastião e Silva, Oeiras.
[3] J. Sebastião e Silva, "Problemas da Universidade", jornal A Capital, 1968; arquivo da Escola Secundária Sebastião e Silva, Oeiras.
[5] Professor Sebastião e Silva, Centenário, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa.
[6] "Obras de José Sebastião e Silva (Volumes I, II e III)", Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1985.
[7] Facebook
[8] J. F. Rodrigues, "José Sebastião e Silva", Rev. Ciência Elem., V10(03):036, 2022.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Belmiro de Azevedo. Competitividade e Educação

Belmiro de Azevedo, licenciado em engenharia químico-industrial pela Universidade do Porto, doutor honoris causa pelas Universidades do Porto e dos Açores, e prestigiado empresário, foi Assistente da Universidade do Porto, entre 1965 e 1968, onde leccionou as disciplinas de "projecto industrial" e de "química orgânica industrial". Recentemente, um Professor da Universidade de Coimbra, que foi aluno de Belmiro de Azevedo, disse-me que ele tinha sido um dos docentes mais apreciados pela afabilidade, competência e exigência.
Ao longo da vida de empresário, Belmiro de Azevedo tem manifestado sempre as suas preocupações sobre a educação e a investigação em Portugal com sugestões concretas. O que, infelizmente, não é frequente no meio empresarial português.
O artigo anexo foi publicado no jornal Expresso de 13/4/2002. Julgo que será interessante meditar sobre qual tem sido o desempenho do Estado (onde incluo as autarquias) e de todas as instituições privadas relativamente aos pontos focados, há 12 anos, por Belmiro de Azevedo. No final do artigo há uma frase lapidar: "Muitos investigadores nem sequer imaginam quão úteis são às empresas". Como nestas coisas a reciprocidade é fundamental, pergunto-me: imaginarão sequer muitos empresários quão úteis são os investigadores?

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Ciência e Anarquia

Michael Brooks, doutorado em física quântica pela universidade de Sussex do Reino Unido, é autor do livro "Free Radicals. The Secret Anarchy of Science" publicado em 2011. O título é metafórico, traduzindo uma visita à "torre de marfim dos cientistas", imagem que a ciência oficial ainda não conseguiu eliminar da sociedade em geral. Destacando a importância da ciência, o livro aborda a intuição, emoção, sonhos e crenças de cientistas, o sistema de revisão por pares ("peer review") bem como casos de testes aplicados por investigadores a eles próprios com alto risco de vida, erros de interpretação e julgamento, omissão de alguns resultados experimentais para justificar teorias, dependência de drogas, etc., que acabaram por conduzir a descobertas e realizações científicas relevantes, ou ao apaziguamento de conflitos entre visões diferentes da realidade. Afinal, os cientistas também são seres humanos! Um dos exemplos envolve o Papa Bento XVI.

Em 2008, na universidade La Sapienza de Roma, uma manifestação de alunos - consubstanciada por uma carta assinada por 67 cientistas da faculdade de física - cancelou a visita de Bento XVI programada para a abertura do ano lectivo. A razão invocada era que em 1990, ainda Cardeal Joseph Ratzinger, tinha feito um discurso onde afirmou que a decisão da igreja em condenar Galileu (por ter defendido que a terra se movia em torno do sol, i.e., o modelo heliocêntrico de Copérnico) tinha sido "racional e justa" e que "a igreja no tempo de Galileu era muito mais fiel à verdade do que o próprio Galileu". Tais palavras "ofendem e humilham-nos", declaravam os signatários da carta. Foi quebrada uma regra essencial, pois se os cientistas signatários tivessem lido o discurso de Ratzinger na íntegra teriam verificado que ele não atacava a ciência, mas, pelo contrário, a defendia. Afinal, o que Ratzinger deplorou foi os que alinhavam com a condenação de Galileu pela igreja medieval, dando como exemplo o filósofo da ciência Paul Feyerabend. Na verdade, foi este filósofo que, em 1975, no livro "Against Method", analisou o caso Galileu versus papa Urbano VIII e escreveu as palavras invocadas pelos signatários que, erradamente, as atribuíram a Ratzinger. No discurso, o cardeal considerou a análise de Feyerabend "drástica" porque o filósofo sabia muito bem que Galileu tinha tido razão. Além disso, a radicais que sugeriam que a igreja deveria ter penalizado Galileu ainda mais, respondia que "a fé não cresce do ressentimento e da rejeição da racionalidade".

O julgamento de Galileu, segundo muitos historiadores, resultou do despeito de alguns cientistas da época que estimularam o envolvimento de teólogos na análise do modelo heliocêntrico à luz dos ensinamentos da Bíblia. Como se sabe, durante o magistério de João Paulo II (que Ratzinger já integrava quando proferiu o referido discurso) Galileu foi "reabilitado" e "absolvido" pela igreja católica, após um longo processo que decorreu de 1979 a 1992.
Existe, no entanto, uma outra versão sugerindo que o motivo essencial da oposição da igreja medieval se deveu mais à crença de Galileu no "atomismo" (i.e., de que todas as substâncias materiais são constituídas por átomos específicos) do que à sua defesa do modelo heliocêntrico. Por exemplo, Euan Squires diz que embora as palavras de Jesus Cristo ao partir um pedaço de pão na última ceia ("este é o meu corpo") sejam, em geral, compreendidas como figurativas, não o eram para a maioria dos sectores católicos tradicionais que as entendiam como se o pão se tornasse realmente o corpo de Cristo. O atomismo, ao reduzir o pão a um conjunto de meros "átomos" de farinha tornava questionável a "transubstanciação" implícita na comunhão sagrada, ao contrário da versão da realidade de Aristóteles em que "substância" tinha um sentido mais abrangente e menos materialista. Em suma, os movimentos relativos do sol e da terra não estariam tão profundamente envolvidos na doutrina da igreja como os santos sacramentos.
Quanto a Paul Feyerabend (1924-94), a sua filosofia advoga o "anarquismo teórico" cuja ideia talvez possa ser captada pela seguinte passagem do livro "Against Method":

Será que a ciência como a conhecemos hoje, uma "busca pela verdade" no estilo da filosofia tradicional, criará um monstro? Não será possível que uma abordagem objetiva que desaprova contatos pessoais entre entidades irá prejudicar as pessoas, torná-las miseráveis, hostis, criando mecanismos moralistas desprovidos de charme e humor? "Não será possível" pergunta-se Kierkegaard "que minha atividade como um objetivo [ou crítico-racional] observador da natureza enfraqueça meu potencial como ser humano?" Eu suspeito de que a resposta para muitas dessas questões seja afirmativa e eu acredito que a reforma das ciências para torná-las mais anárquicas e mais subjetivas (em um sentido Kierkegaardiano) é urgentemente necessária.

Criticou, também, a geração de cientistas do pós - II guerra mundial:

The withdrawal of philosophy into a "professional" shell of its own has had disastrous consequences. The younger generation of physicists, the Feynmans, the Schwingers, etc., may be very bright; they may be more intelligent than their predecessors, than Bohr, Einstein, Schrödinger, Boltzmann, Mach and so on. But they are uncivilized savages, they lack in philosophical depth – and this is the fault of the very same idea of professionalism which you are now defending.

É claro que uma análise detalhada exige a leitura cuidadosa da obra de Feyerabend. Vários filósofos opinam que ele foi, essencialmente, um "provocador agreste" no sentido de se discutir e avaliar o que chama "episódios anárquicos" sob o manto da objectividade da ciência. Os quais, diga-se, o livro de Brooks não nega, mas analisa cientificamente. Contudo, as passagens anteriores suscitam de imediato  questões como:
Não desvirtuará esta doutrina a objectividade da ciência e os frutos benéficos que, indubitavelmente, tem produzido? Não estimulará manifestações de pós-modernismo e relativismo radicais, de anti-ciência e de pseudo-ciência? Não são os cientistas humanos? Não aprovam contactos pessoais e o charme? Não têm sentido de humor, frequentemente como "Farpas"? Não apreciam filosofia, poesia e outras expressões da arte, e "coboiadas"? Que reforma anárquica e subjectiva prescreve Feyerabend para as ciências? Mais alterações dos programas escolares e de "estratégias pedagógicas"? Não foi Feynman um cientista "sui generis" e um magistral pedagogo e divulgador da ciência?

O livro de Brooks é um lúcido, esclarecedor e científico contraponto para as "provocações" filosóficas de Feyerabend que foi ao extremo de afirmar que a bruxaria é um meio tão válido como a ciência para obter conhecimento e, também, que em ciência "vale tudo". Todavia, Brooks não é meigo para a ciência oficial (política científica?) dizendo que ela veste os investigadores com demasiados "coletes de força" que atravancam o caminho da boa ciência, e defendendo:

The work of science is too precious, and - in this age of approaching environmental crisis - too urgent, to allow that to happen. But safe in the knowledge that the public can cope with truly human scientists, and empowered by the realisation that people no longer fear science, we can set scientists free to work in the way that gives them their best chance of making progress.

Curiosamente, Michael Brooks liderou, nas eleições britânicas de 2010, o "Partido da Ciência", disputando o lugar do deputado conservador David Tredinnick, um simpatizante da anti-ciência e das medicinas alternativas que gastou 700 libras do erário público em software astrológico (após denúncia pública em 2009 teve de reembolsar o Estado). Brooks, perdeu a eleição: teve 197 votos contra os 23132 de Tredinnick. Isto, na secular democracia britânica. Deu-me para imaginar o que sucederia, em Portugal, numa situação semelhante...


Referências
[1] Michael Brooks, "Free Radicals. The Secret Anarchy of Science", Profile Books, 2011.
[3] Carlos Fiolhais, "Um Filósofo sem Razão", De Rerum Natura, 2007.
[4] Alan Sokal, Jean Bricmont, "Imposturas Intelectuais", Gradiva, 1999.
[5] Frederico di Trocchio, "O Génio Incompreendido", Dinalivro, 2002.
[6] Euan Squires, "Conscious Mind in the Physical World", Adam Hilger, 1990.